Continuidade do artigo “Usos e Abusos da Criação com Apego” escrito por Guaraciara Gonçalves em seu blog Preta Materna em Outubro de 2015 e que você encontra aqui em nosso blog.
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Os usos e abusos da Criação com Apego – SEGUNDA PARTE
Dando continuidade ao texto anterior vou pontuar os outros aspectos que me incomodam no discurso da Criação com Apego ( Attachment Parenting International).
Criação com Apego e direitos reprodutivos
O princípio (regra) primeiro da Criação com Apego chama-se “preparando-se para gravidez, parto e maternidade”. Você pode encontrá-lo aqui.
Esse princípio inicialmente parece muito interessante porque ele vai ao encontro da humanização do parto e do respeito ao recém-nascido, porém como a Criação com Apego é liberal, ou seja, pauta-se em uma visão ideológica na qual as pessoas tem igualdade no acesso as oportunidades e que é uma questão de escolha individual aproveitá-las ou não, desconsiderando as condições sociais e históricas que levam milhares de pessoas a não terem oportunidade nenhuma e nem direito nenhum respeitado, ela não tem a menor preocupação em reconhecer os diferentes contextos nos quais essa “preparação para a gravidez, parto e maternidade” está inserida. Desse modo não reconhece que “preparar a gravidez” não é algo tão simples, que dependa só da vontade da mulher. Esse princípio na minha opinião é a fina flor do elitismo e só pode ter sido pensado por um homem, daqueles que concordam que “é a mulher que deve se cuidar”.
Na nossa realidade esse princípio transforma-se em uma piada de muito mal gosto. Em um país como o nosso, no qual a gravidez compulsória é predominante, no qual as mulheres que sofrem estupro passam por mil dificuldades para abortar. Onde estima-se que ocorram cerca de 530 mil estupros por ano. País no qual o aborto é criminalizado e está entre as principais causas de mortalidade materna, onde as políticas de saúde reprodutiva são precárias e os direitos reprodutivos são totalmente desrespeitados, vir falar que a mulher tem que “se preparar para a gravidez” sem reconhecer toda a complexidade da questão e sem se mobilizar para transformá-la chega a ser irresponsável. Aqui nesse país, caras-pálidas, o “preparando a gravidez” praticamente não existe.
É irresponsável pois além de não se preocupar com a realidade do que é a gravidez no Brasil, não reconhece ao preconizar que a futura gestante deve procurar informações, que o acesso a informação de qualidade depende de capital cultural. A procura de informações corretas depende do conhecimento do vocabulário que está em torno da humanização, caso contrário você irá parar no baby center, bebe abril, revista crescer, e outros… então acessar informação de qualidade não é uma questão de “basta querer”.
Não reconhece que para a maioria das mulheres está bem informada não basta, é preciso que existam condições para que ela use essas informações a seu favor. Como ela vai se preparar para a gravidez se ela se quer encontra atendimento ginecológico nos postos de saúde? Se nossas políticas de saúde reprodutiva são totalmente ultrapassadas. Se ela vive em um relacionamento abusivo, não tem condições financeiras, vive distante dos centros urbanos, como vai utilizar informações a seu favor? Como vai se preparar para a gravidez e um parto respeitoso se vive em uma cidade que se quer tem posto de saúde? Quando acreditamos nesse princípio da Criação com Apego e pensamos que “preparar a gravidez” é uma simples questão de escolha, tornamos invisíveis questões relacionadas aos direitos reprodutivos das mulheres que na nossa realidade são desrespeitados de forma grave e passamos a acreditar que tudo é uma questão de de vontade individual. E isso só contribui para tornar o quadro mais complicado do que já está.
Como a Criação com Apego tem origem nos Estados Unidos, imagino que uma série de questões com relação aos direitos reprodutivos talvez estejam mais avançadas e talvez, muito talvez, dê para a mulher “preparar a gravidez”. Esse não é o nosso caso e essa abordagem invisibiliza os problemas. Daí eu pergunto para as pessoas adeptas da Criação com Apego como garantir a “preparação para a gravidez, parto e maternidade” em uma realidade como a nossa? Como vocês tratam questões como gravidez compulsória e criminalização do aborto, já que aqui a mãe tem que amar o seu filho mesmo sendo de um estuprador? O que falar para aquelas que não prepararam a gravidez e não queriam estar grávidas? Bom, como já conheço um pouco do discurso de vocês imagino que a resposta seja: serão mães de futuros marginais e ponto!
Na blogosfera materna esse “princípio” contribui para a falsa ideia de guerra entre parto normal X cesárea, já que quem teve parto normal para a Criação com Apego está dentro do padrão da “boa mãe”, se informou, preparou a gravidez e o parto e quem fez cesárea já começou errado e vai ter que carregar muito mais o filho no sling e compartilhar muito mais a cama se quiser consertar a ausência da oxitocina. Então quem fez cesariana defende-se e com razão já que via de parto não define nada em relação a criação dos filhos. Ao se defenderem afirmam terem escolhido a cesárea, e dificilmente reconhecem que a indústria da cesariana existe. Em seguida escutam “lá vem elas dizerem que não são menas”. Precisamos parar com isso. Precisamos parar de colocar uma guerra onde o que existe é um massacre, massacre do parto normal. Para haver guerra é necessário um equilíbrio bélico. No caso “parto normal X cesárea”, sabemos que a artilharia do poder médico que não vai abrir mão de expandir cada vez mais a indústria da cesariana é infinitamente mais pesada.
Como o liberalismo está presente em tudo no meio materno, a lógica de mercado impera. Tudo é levado para o lado individual, tudo vira competição entre as mulheres e assim o contexto de abuso do poder médico tanto no que se refere a violência obstétrica ocorrida nos partos normais quanto a indução das chamadas cesarianas eletivas, ou cesarianas de emergência com falsa indicação, se torna uma discussão que fica em segundo plano nessa disputa materna. O ataque que deveria ser direcionado ao sistema (público e privado) que precariza a saúde reprodutiva da mulher e não respeita seus direitos (desde as opções de métodos contraceptivos até o pós parto) vira uma briga entre as mulheres, que definem-a como guerra, mas que de guerra não tem nada, pois as mulheres não possuem nenhuma capacidade bélica nesse sistema. E quando a capacidade bélica de um dos lados é menor ou inexistente não há guerra e sim massacre, política de extermínio. E é isso que o nosso sistema obstétrico machista e racista nos impõe. Enquanto as mulheres estiverem disputando entre si quem é “mais mãe”, quem cria com apego, em virtude da via de parto, o sistema agradece e os planos de saúde também.
A Criação com Apego é muito cruel com famílias adotantes. Quando publiquei o texto anterior muitas mulheres mães adotivas vieram me agradecer e disseram-se representadas pelo texto e que se sentem humilhadas pela Criação com Apego. Afinal, se todo amor é construído nos dois primeiros anos de vida, e especialmente se o parto natural e a amamentação são fundamentais para construção do vínculo afetivo (queria muito saber onde está a régua que mede o vínculo), o que dizer para as famílias que adotam ou pretendem adotar crianças? O que dizer para crianças que estão em situação de abrigamento? Dizer que elas não serão capazes de amar e receber amor pois não permaneceram agarrados na mãe que pariu e amamentou? E os casais homo-afetivos do sexo masculino que pretendem adotar? O vínculo não é possível de ser construído sem a presença da mãe?
Até que ponto em nosso contexto a Criação com Apego se aproxima da ideia conservadora de “família tradicional”, já que ignora totalmente a ausência dos direitos reprodutivos, induz uma ideia de “retorno ao lar” pela mãe, finge ser politicamente correta ao falar que “reconhece diferentes arranjos familiares” mas no grosso só fala de mãe e pai, dentro de uma visão na qual o bebê está no centro e a mãe deve abrir mão de ser mulher e se dedicar somente ao filho e a casa. O vínculo é construído pela mãe que pari, amamenta e deve ficar colada no bebê, e o pai faz o que? Ajuda?
Eu tenho algumas pistas sobre esse conservadorismo da Criação com Apego que vieram com algumas pesquisas que fiz sobre o criador dessa escola, o Dr. William Sears. Reflitam na heteronormatividade e no controle sobre o corpo e os movimentos das mulheres impostos pela Criação com Apego a partir desses livros. Descobri que Dr. Sears tem uma produção voltada para Criação com Apego a partir de ensinamentos bíblicos. Não sei até que ponto ele está envolvido com o fortalecimento do poder religioso, mas tudo indica que é um intelectual a favor desse poder. E quanto aos outros intelectuais da Criação com Apego? O que defendem? Muito suspeito não?
A descrição foi feita pelo google tradutor. Não sei inglês, infelizmente.
Attachment Parenting International TIRE AS MÃOS DOS NOSSOS CORPOS! DEIXE NOSSA PRIVACIDADE EM PAZ!
A Criação com Apego não fala sobre famílias, fala sobre mulheres. Principalmente sobre os corpos das mulheres. Todos os seus princípios dizem respeito aos nossos corpos. Os debates em torno da amamentação, da cama compartilhada e do cuidado exclusivo dos bebes pela mãe até os três anos, mostram-se a meu ver extremamente abusivos. A cama compartilhada é feita pela mulher, é no peito dela que o bebe fica agarrado a noite toda, é a mulher que assim garante o “sono seguro” da criança e é a coluna dela que fica destruída. Então é tudo sobre nós. Ela interfere tanto na questão da biologia ao determinar como deve ser a amamentação, por exemplo, como no que se refere ao seu movimento, ao determinar que deve ficar grudada no bebe, impedindo assim que trabalhe, estude, saia para se divertir, viaje, etc. Também interfere na sua sexualidade com as discussões absurdas e infindáveis sobre cama compartilhada. A intimidade e a vida privada das mulheres fica extremamente exposta pela Criação com Apego. Um detalhe importante nessa invasão é que em geral são homens prescrevendo o que mães devem fazer. Homens falando de parto, falando de amamentação, cama compartilhada e dando conselhos. Não dá!
Acho abusivo a Attachment Parenting International se achar no direito de dizer como eu devo dormir e mais, vir dizer que se eu tenho dificuldades com a cama compartilhada é porque não sou criativa na hora de fazer sexo. “Existem outros cômodos na casa”. Me poupem! Se eu quero fazer sexo só no meu quarto isso é um assunto meu! Vocês realmente querem invadir a minha casa e decidir onde e quando eu vou fazer sexo? Se a mulher não se sente a vontade em ir para outro comodo, ela não se sente a vontade e ponto. Deixe-a em paz. A que nível de invasão vocês querem chegar? Bom, como a Attachment Parenting International tem base religiosa talvez a ideia da cama compartilhada seja para a mulher não fazer sexo mesmo… vai saber… Dormir com o bebe na própria cama deve ser algo espontâneo como sempre foi na história da humanidade e não uma imposição. Isso para a classe média que tem no quarto o seu ideal de individualidade – meu quarto, meu mundo e nada mais – é um sacrifício.
Na minha opinião é preciso urgentemente tirar as questões da maternidade do campo da Criação com Apego. Essas questões devem voltar para onde elas nunca deveriam ter saído que é o campo da luta pelos Direitos das Mulheres. Essa fragmentação proposta pela Criação com Apego, que separa a mãe da mulher, defendida pelos seus intelectuais (orgânicos) como Laura Gutman, Carlos Gonzalez e outros (aqui no Brasil também tá cheio), deve ser posta de lado. Ela separa a mãe da mulher e a isola, pois ao separá-la da mulher, deixa a mulher em segundo plano. A mãe descolada da mulher, vira uma máquina de cuidar de criança, separada do ser integral que é a mulher e isolada em um contexto de altíssima intervenção em sua psicologia e em seu corpo. É preciso parar com isso.
A minha ideia era analisar cada princípio da Criação com Apego tendo em vista os Direitos das Mulheres, mas vi que isso viraria uma tese (rs) porque é tudo muito problemático, então resolvi analisar somente o primeiro princípio. Talvez eu volte para falar sobre o princípio da alimentação, um dos mais problemáticos na minha opinião…
Criação com Apego e Apropriação Cultural
Sabemos que a Criação com Apego apropriou-se de práticas milenares de cuidado, em especial, de mulheres negras, indígenas e asiáticas, transformado-as em fetiches para a classe média tanto dos países do norte, quanto do Brasil nos últimos tempos. Quando adotamos elementos de uma cultura e os transformamos em mercadoria ou os utilizamos somente como meio para ascensão acadêmica ou para o fortalecimento de uma instituição, estamos praticando apropriação cultural. A Criação com Apego é toda baseada nisso. Ela é um projeto de colonização e como tal só se reproduz apropriando-se do que é do outro. Ela não tem compromisso nenhum com as mulheres, muito menos com as mulheres indígenas e africanas. Somente se apropria dos conhecimentos para crescimento próprio enquanto instituição. Suas seguidoras acabam virando adeptas de práticas de apropriação também e muitas vezes não se dão conta.
Nesse sentido a Criação com Apego vem promovendo o embraquecimento e a elitização de práticas que fazem parte do universo das mulheres pobres, em especial, africanas e indígenas. Carregadores de bebes estão totalmente gourmetizados. É preciso entender que essa peça tem história. Uma longa história na humanidade e que provavelmente muitas mulheres foram salvas por ela, pois puderam liberar suas mãos para fazer outras tantas coisas e carregar seus bebes quando surgia alguma situação de perigo. É preciso ter em mente essa ancestralidade dessa peça, a qual tem sido mercantilizada como uma novidade, mais um fetiche da classe média. Todas as mulheres deveriam se apropriar de algo que é delas e se sentirem a vontade para fazer seus próprios carregadores. A Criação com Apego não criou nada! Mulheres negras, indígenas e asiáticas sempre usaram e usam carregadores de bebes. Sempre dormiram com seus bebes. Isso não é novo. Por que agora aparece desse forma fetichizada, embasada em argumento científico, o qual dificulta a democratização desses carregadores, já que agora é preciso tecidos e amarrações específicas e a contratação (tem que ter dinheiro!) da consultoria de um profissional para que a peça seja utilizada ou pagar um “workshop” para aprender as amarrações?
Na minha opinião carregadores de bebes nem deveriam ser vendidos por serem um patrimônio imaterial das mulheres. Acho que nesse sentido, a preocupação com o “apego” deveria passar pela solidariedade. Quando fiz meu carregador comprei o tecido em uma loja que vende pano por atacado. Lá estavam duas mulheres comprando quilos e quilos de dry fitt para fazer sling. Tiveram a coragem de dizer para o vendedor que iriam só fazer bainha e vender por 200 reais. O tecido havia saído por 20 reais cada sling. Quanto de lucro tem aí? Muitas dessas vendedoras de slings ainda desencorajam mulheres a fazerem seus próprios carregadores alegando que é preciso muito cuidado com isso. E o pior de tudo são as empresas dos Estados Unidos e da Europa que transformaram o carregador em griff e agem como se tivessem o inventado e o vendem por um preço exorbitante. Capitalismo selvagem na comunidade do apego…É preciso rever isso.
Sobre a cama compartilhada
Por que é que algo tão simples como dormir com o próprio filho gera tanta polêmica? Simples. Porque a cama compartilhada não é de vocês. Vocês vivem sob uma cultura individualista para a qual o “próprio quarto” é um símbolo muito importante. Ter o próprio quarto sempre foi um meio de diferenciação importante para a classe média. Alíás, assim que o bebê crescer ele vai ter seu próprio quarto, suas próprias coisas, seu mundinho de indivíduo classe média, então para quê essa forçação de barra de cama compartilhada? A cama compartilhada na classe média não faz sentido, por isso é muito difícil, chega a ser constrangedor ter que dormir com o bebe na própria cama, algo tão comum entre as mulheres pobres.Vocês acham que nas diferentes culturas dormir com o bebe tem a ver com o que, já que não foi o psicólogo intelectual da criação com apego quem determinou?
Nós, mulheres pobres, africanas, indígenas, asiáticas, dormimos com o nosso bebê porque o nosso contexto faz com que seja assim. Não é porque foi “cientificamente provado” que é importante. Isso pode ter a ver com a necessidade ou com o costume para as mulheres pobres, ou com a cultura para as mulheres indígenas. A cama compartilhada (quando se tem cama) acaba cumprindo a função de fazer com que já aprendamos tão cedo que vamos ter que dividir tudo. Não adianta compartilhar cama se vive imerso em uma ideologia individualista. Não adianta compartilhar a cama se não vai dividir mais nada depois. Estou falando de dividir e não de ajudar ou dar os brinquedos velhos que não quer mais. O dormir junto pertence a culturas em que as crianças além de dividirem o que tem são cuidadas por todos. Por isso essa prática no meio da classe média é artificial, dói e gera tanta polêmica. Essa prática não é coerente com a Criação com Apego que é liberal e centraliza a responsabilidade por todos os cuidados na mãe.
Apesar de todas as dificuldades e incoerências que está no ato da classe média compartilhar cama, mesmo assim a gourmetização come solta, a apropriação já foi feita pelo capitalismo e já existem inclusive no mercado, camas compartilhadas com pré fabricação. O fetichismo não pára! O capitalismo já tomou conta do meio apegado.
Isso é para dormir como uma índia?
Sobre ser índia
Muita gente no meio da Criação com Apego diz ser índia ou que “todas somos índias”. Não, não somos. Eu não sou índia e não faço nada pelas mulheres índias. Entendo que o termo foi utilizado como um xingamento pelo poder médico e daí então a estratégia foi utilizá-lo como forma de resistência, principalmente pelas defensoras da humanização do parto. Bom, eu gostaria de saber se as mulheres que integram as diferentes comunidades indígenas foram consultadas sobre isso. Provavelmente não foram e isso é sim uma forma de apropriação, uma vez que esses movimentos não são originários das mulheres índias e mais, não fazem nada pelas mulheres índias. O uso do nome índia vira uma brincadeira com uma identidade que como nós sabemos vem há mais de 500 anos sendo massacrada nesse país. Eu não vejo graça. Esse uso instrumental da identidade das mulheres indígenas, já que vocês não são índias 24 horas por dia, e sim apenas nos momentos em que é conveniente não é humanizadora, pois se torna algo exótico, se torna algo utilizável como um objeto, uma fantasia, que se põe e se tira na hora que quiser.
Além disso a imagem da mulher indígena é apropriada e nada é feito por essas mulheres, não há a menor preocupação com a realidade que elas vivem, inclusive em termos de violência obstétrica. Sim, índias passam por violência obstétrica e diferentes abusos, a realidade não é esse fetiche, essa fantasia que está sendo apresentada pelas mulheres da classe média.
Acho que seria muito mais interessante, inclusive politicamente, se as mulheres se identificassem como elas são. Mulheres de classe média que querem parir e criar seus filhos de acordo com determinada corrente psicológica, chamada Criação com Apego e lutassem a partir dessa identificação. Penso que isso seria mais coerente, mas talvez seria mais difícil e doloroso porque implicaria no reconhecimento de privilégios, os quais permitem a possibilidade de brincar de outras identidades e de se apropriar de outras culturas. Porém não vai haver “criação para um mundo melhor” se essas questões não forem encaradas e os privilégios revistos.
Obrigada por compartilhar esse artigo. Diz tudo o que penso e mais um pouco. Nem tenho filhos e já me sinto oprimida com a ideia de criação com apego. Já cheguei a ouvir de uma amiga que mãe não pode trabalhar. Mãe não pode trabalhar! Fácil falar se VOCÊ não precisa trabalhar. Isso me gerou muita ansiedade e um sentimento de julgamento. Oras, eu preciso trabalhar se quiser pagar as contas e garantir sustento, logo serei o que quando tiver filhos? Uma não-mãe? Uma mãe inválida? E meu marido é o que por não ganhar o suficiente pra que eu não precise trabalhar? Um panaca? Um banana? Isso é ABSURDO. Posso dizer que honestamente, odeio e repudio essa ideia opressora e elitista da criação com apego. A meu ver, só serve para fazer com que mães se sintam menos mães, pra trazer culpa pra quem não tem condição (ou não quer!) ficar 24h colada com o bebê. Me parece ser uma teoria que coloca todo o peso nas mulheres, privando-as de serem mulheres em toda a sua totalidade, desconsiderando sua sexualidade, seu espaços, suas condições, seus desejos, suas necessidades.
Oii Eliza, tudo bem? Acredito que muito da carga da maternidade tem a ver com essa pressão que é imposta em cima das mães. De todos os lados temos julgamentos e palpites, né?