Há algumas semanas, com a chegada do frio, eu tirei todas as roupas de cama guardadas pra lavar. Foram máquinas e máquinas de lençóis, cobertores, mantas e algumas roupas. Na última máquina foram as coisas que eram do meu filho da época de recém nascido.
Eu nunca fui de guardar muitas coisas. Por ter ganhado tantos presentes durante a gravidez, sempre fiz questão de doar ao máximo tudo que já não precisava. Para que o que supriu o meu bebê pudesse suprir à outros bebês também. Isso tem uma importância enorme pra mim, o que foi compartilhado comigo, eu também quis compartilhar com os outros.
Mas algumas roupas eu guardei. Aquelas que tem uma memória afetiva, algumas que foram passadas de geração em geração na família. Um lençol que minha avó bordou pro meu pai quando ele nasceu, que eu usei quando bebê e que meu filho também usou. Uma manta que ela fez pro meu filho logo que ele nasceu, e outra, amarela clarinha, que minha madrinha me deu. Uma saída de maternidade vermelha que a namorada do meu irmão me deu de presente, a primeira roupinha que eu comprei pro meu filho, um body do darth vader, um cobertor de estrelinhas que a dinda dele, minha melhor amiga, deu.
Ver toda essas coisas estendidas no varal secando, me lembrou ao final da gravidez, quando a gente tradicionalmente lava e passa tudo com o maior cuidado.
E senti muita saudade e muita gratidão.
Nunca me dei bem com a minha avó. Somos pessoas muito diferentes. Também tive meus atritos com a namorada do meu irmão. Mas elas se lembraram de mim, e sei que deram esses presentes com o coração cheio de amor pela criança que estava por nascer.
Minha madrinha sempre foi uma pessoa muito querida. Hoje em dia a gente pouco se vê, e a memória que eu tenho é dela bem mais nova, quando eu era criança. Sempre que a reencontro, fico surpresa que ela já não é exatamente como a imagino. E de como o sotaque português dela ainda é super forte, mesmo depois de 40 anos ou mais, morando no Brasil.
As coisas que eram do meu pai, estavam guardadas com a minha mãe. Tudo ela guardou também. Quando meu bebê era recém nascido, ela cuidou de mim, dele, da minha casa. Quando eu voltei pra casa depois do nascimento dele, ela estava toda limpinha e arrumada de um jeito completamente diferente, do jeito que só minha mãe saberia fazer.
Logo depois que saí do hospital, fui pra casa da minha sogra. Ela tirou férias para cuidar de mim, e do neto dela. Uma prima do meu esposo foi me visitar lá, e compartilhou comigo das dores da cesariana, me fazendo rir, mesmo cortada ao meio no início do puerpério.
Tudo que eu tenho e sou veio principalmente de mulheres. Minha mãe, minha avó, minha madrinha, minha sogra, minha melhor amiga Thais. Tantas mulheres que eu amo, honro, e sou muito grata. Mulheres que cuidaram de mim. Que cuidaram do meu bebê com tanto amor. Neste momento de pós parto, o amor dessas mulheres foi fundamental.
O meu filho Ernesto, acabou de completar dois anos de idade. E tudo passou num instante. Ao pendurar as roupas, pensava em como as deveria ter usado mais nele. E se um dia elas serão do meu neto, ou de um outro filho.
Acho que a chegada de um bebê mostra o melhor das pessoas. Nos une mais a nossa família, a quem nos ama. Nos ensina tanto. É sabido que ela também nos mostra o pior dos outros, e da gente também, mas não quero falar disso aqui. Quero focar no que é bom. No quanto isso muda a gente, e nossas relações.
Nesse momento de pandemia, sei que muitas de nós, no final da gravidez, recém paridas, ou mães de crianças pequenas, estamos ficando muito sozinhas, por causa do isolamento. A saúde mental vai pro buraco. Tem o medo, as incertezas, a sobrecarga. Mas, vai passar. Acho que o grande lema da maternidade é “Vai passar”. E essa pandemia vai passar, assim como passaram voando os dois anos de idade do meu bebê. O que é bom, e o que é ruim, vai passar. Então nos apeguemos no que é bom, na família, nas lembranças, nos momentos felizes. Aproveitemos ele ao máximo, e deixemos o que é ruim passar logo.
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