A maternidade sob uma outra perspectiva

Maternidade compulsória é um termo usado para o modelo a que estamos sujeitas a seguir: o de que o “normal” é que a mulher tenha filhes. E se não tem, há algo de errado e ela nunca se sentirá completa e realizada. Não preciso dizer o quanto a sensação de gerar, parir, criar uma vida pode ser uma experiência maravilhosa, já que sobre isso já é muito falado até de maneira bem enganosa, eu diria. Desde cedo somos estimuladas a entrar em contato com nosso “instinto materno”, que a gente só vai saber/sentir realmente como é, quando se torna mãe. E a surpresa é que não é nada parecido com aquele Amor Incondicional que tanto se ouve falar. Há um senso grande de proteção sim, em geral, e não estou dizendo que não há amor, mas o amor e vínculo são construídos com o tempo, de acordo com a relação e convivência com a criança e isso, claro, varia de acordo com as particularidades e realidade de cada pessoa. Ter autonomia é ter o poder de decisão sobre a própria vida, portanto isso inclui a escolha de ser mãe ou não. Porém, ser mãe é mais uma coisa incluída no pacote da heterocisnormatividade dentro de um sistema capitalista: temos um modelo de família no “script”.

A parte que eu mais curti foram sensações fisiológicas de estar grávida, parir, amamentar… mas todo o resto é pra mim tão desgastante e as vezes angustiante… Eu queria falar às mães que não precisamos falar “MAS eu amo minhe filhe” toda vez que vamos falar de algum aspecto doloroso da maternidade. Não precisamos provar nosso amor pra ninguém; nada sobre as nossas dificuldades tem a ver com amar mais ou menos nossas crias. Tenho fases de ficar dias seguidos sentindo raiva da maternidade e de toda dor e dificuldade que ela acompanha e claro que isso já foi bem confuso e difícil de lidar. Mas entendi que é importante sentir; quando a gente não reconhece, aceita e acolhe a raiva, ela não vai simplesmente sumir e corremos o risco de projetá-las em pessoas ou situações e gerar ainda mais dor… Por isso acho importante a gente saber quando precisa buscar ferramentas que ajudem com a saúde mental/emocional.

Eu já fingi que tava tudo bem, quando não estava. Nunca gostei de ser mãe e já me senti silenciada muitas vezes quando tentava desabafar com alguém. São tantos conselhos bem intencionados que te fazem se sentir mais inadequada ainda… Por favor, não façam como algumas pessoas religiosas que tentam nos convencer de suas crenças; se é “um resgate de almas” ou “karma”, deixe que a própria pessoa descubra através da sua busca pessoal. Sei que a intenção pode ser boa, mas se a gente tenta levar nossas crenças pra outres estamos querendo colonizar as pessoas e isso é ainda mais delicado quando a pessoa está num momento de fragilidade. Precisamos de acolhimento.

Se quiser compartilhar algo sobre suas dores ou angústias, ficarei muito grata em ler! Se preferir também pode ser por e-mail. anita.mandala88@gmail.com. Obrigada!

Autor: Ana Luiza Laurentino

Autor: Ana Luiza Laurentino

Ana Luiza é mãe do Ezequiel, pinta, canta, dança e apóia a luta pelos direitos dos animais.

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2 Comentários

  1. Lígia

    Sempre que uma amiga ou conhecida me pergunta como é ter filhos, ou como é ter 3 já respondo: NAO TENHA! Filho é doação total, trabalho integral sem remuneração… mas o pior para mim é a nossa anulação, o quanto nos deixamos para depois a ponto de talvez adoecer. As mães que assim não fazem são mal vistas por todos, inclusive por outras mães e talvez por sua própria mãe!!! Um modelo de mãe perfeita foi criado, e nós foi inserido por guela abaixo… compartilho do mesmo sentimento que você!

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    • Cheyenne Vieira

      Oii Lígia, tudo bem? Todo esse modelo de mãe perfeita que sacrifica e dá tudo pelos filhos e pela família é opressivo demais pra gente. Somos mães reais e a sociedade precisa aceitar isso!

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