Reflexões não monogâmicas

Quando eu “saí do armário” da monogamia foi um alívio. Me lembro, desde muito nova, que várias vezes eu gostei de mais de uma pessoa. Claro que isso sempre foi um conflito dentro de mim, já que a regra diz que que isso é errado. Eu passei então a não confiar mais no que eu mesma sentia, minha mente me questionava o tempo todo: “eu amo ou não amo?”, “gosto mais desse ou daquela?”. Imagina que você tem que escolher uma pessoa só dentre as suas amizades?!.. Tive muitos relacionamentos e quase nenhum muito duradouro, então eu pensava: “com certeza tem alguma coisa errada comigo!” E dá-lhe terapia! Em algum momento eu iria descobrir a raíz do problema. E descobri. Se chama MONOGAMIA. Simples. Quando eu comecei a ler sobre Não-Monogamia política fez completo sentido pra mim e vi que o problema não era comigo! Eu nunca me atraí muito pela modalidade “relacionamento aberto”. Pensava eu: estou aqui penando pra levar UM relacionamento de uma forma relativamente saudável (pois pra mim não existe monogamia saudável, mas escrevo outra hora sobre isso!), como administrar outros?? Pois bem, isso tudo pra dizer que a linha de raciocínio que faz sentido pra mim é o que aborda a não monogamia numa perspectiva de romper MESMO com a norma, ou seja… sair do padrão de relacionamento monogâmico. Então… estar em um relacionamento aberto, não seria exatamente sair da estrutura monogâmica. Mas, explicando um pouco: Não monogamia seria como um termo guarda-chuva e não um formato de relação. Existem vertentes distintas defendendo suas não-monogamias… mas isso também não cabe aqui nesse texto agora. Vou apenas pegar uma fator que é bastante usado que considero uma característica de controle e opressão: o acordo. Muita gente, quando o assunto é relacionamento saudável, aborda com naturalidade que precisam existir acordos e que precisamos estabelecer nossos limites para o outro, como se isso fosse uma coisa super legal e caracterizasse responsabilidade afetiva. Mas o que é isso senão cerceamento da autonomia e liberdade de outre?

Entendi que meus limites, dizem respoeito a mim e não preciso nem devo responsabilizar e levar isso à outra pessoa. Eu costumava me achar a pessoa mais problemática do Universo porque por mais amor que eu sinta por alguém, sempre me senti inadequada, não caibo no molde, de verdade. Antes que pareça um texto colonizador ou ditador de novas regras, deixo claro que estou relatando algo pessoal e sei perfeitamente que parece coisa de outro mundo ou revolucionária demais pra muita gente. Mas eu realmente gostaria de ter tido acesso às informações que estou tendo agora antes.

Falando um pouquinho sobre a não-monogamia política, é um pensamento político antimonogâmico com foco em gênero, raça e sexualidade e tem um viés intersecional, por isso me identifico. Vê a monogamia como uma estrutura de opressão e entende que deve ser questionada e combatida como todas as outras formas de opressão. Recomendo para estudo e leitura o material do pessoal do @naomonoemfoco, no instagram. (Lá tem link de acesso aos textos do Médiun). Oferecem cursos muito bons inclusive!

Recomendo muito também @genipapos (no instagram). Geni Nuñes é uma pesquisadora indígena Guarani que traz temas, inclusive muito sobre monogamia, numa perspectiva decolonial e também oferece cursos maravilhosos!

Autor: Ana Luiza Laurentino

Autor: Ana Luiza Laurentino

Ana Luiza é mãe do Ezequiel, pinta, canta, dança e apóia a luta pelos direitos dos animais.

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1 Comentário

  1. Ana Aline de Medeiros Silva

    Texto maravilhoso, Ana! 🥰

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