Amor que transforma : Relato da Chey, mãe do Ernesto

A descoberta da gravidez e a chegada da maternidade é algo que muda toda mulher. Pra muitas pode ser uma explosão de alegria, como também pode ser uma notícia devastadora.  Pra mim, foi uma salvação, realmente um amor que transforma.  

Eu havia acabado de trancar a faculdade, com uma ansiedade pesada que me fazia ir ao pronto socorro por não conseguir respirar. Era a pior sensação do mundo. 

Eu e o pai do meu filho, estávamos juntos há uns 3 meses. Quase nada.

Aí veio a surpresa da gravidez. Eu, 20 anos, nem metade da faculdade feita. Ele já era formado e trabalhava. Menos mal. 

Nossas famílias aceitaram bem a gravidez, fomos muito acolhidos desde o início, a família dele me adotou e fui morar com eles. 

Depois de descoberta a gravidez, magicamente as crises de ansiedade pararam. Elas sumiram, e nunca mais voltaram. 

Aí começou a busca sobre tudo que eu achava que tinha que saber. Entrei em mil e um grupos de amamentação, parto natural, pediatria, pedagogia, doulagem, fralda de pano, etc etc etc.

Já na gravidez a gente é bombardeada de ideias, e produtos, e filosofias, ideologias. Nem sempre isso é legal, mas eu não sabia. Escolhi as ideias que mais se aproximavam de mim e me aprofundei nelas. Na verdade, me joguei. Sempre fui muito impulsiva.

Passei os nove meses de gravidez entendendo tin tin por tin tin de tudo relacionado a bebês. E com a gravidez veio o medo do maior desconhecido: O parto.

Desde antes de engravidar eu já frequentava espaços sobre humanização do parto, então já era convicta de que queria um parto natural. Só estudei e estudei mais. Mas acho que idealizei demais o parto.

 E a realidade é outra história. A realidade se tornou uma história dolorosa. 

O trabalho de parto se tornou uma cesárea de emergência, e sem me aprofundar muito no assunto, foi algo que deixou muitas marcas além da marca física de uma cirurgia. Foi perigoso, doloroso e traumático. Mal vi meu bebê, o levaram embora. Só fui conhecê-lo 3 horas depois. Foram as três horas mais longas da minha vida. Só queria saber se meu filho estava bem, e poder ficar com ele. 

No fim nós dois ficamos bem. Tivemos alta logo e fomos pra casa dos meus sogros. 

Tudo isso foi muito traumatizante, muito doloroso. Hoje, quase dois anois depois, entendo que fomos irresponsáveis, entendo que tudo foi dessa forma por medo. Entendo que a médica agiu violentamente comigo pois estávamos em risco. Sei que nem de longe essa era a melhor atitude pra uma médica tomar, mas ela também é humana, estava sob a pressão de duas vidas. Eu entendo. E estou superando. 

O que não consegui com o parto, consegui com a amamentação. Eu mal senti dor, e a primeira e única dificuldade que tive foi resolvida numa rápida visita ao banco de leite. 

Pouco tempo depois, também me tornei doadora de leite. Me sinto muito grata por ter podido alimentar outros bebezinhos que também precisavam de leite. 

Ernesto mamou por seis meses exclusivamente, e segue mamando até hoje, com 1 ano e 11 meses. Por mim, seguirá assim enquanto nós dois quisermos. 

Sou grata por ter tido o privilégio de chegar até aqui. Digo privilégio porque o tempo médio de amamentação no Brasil são 54 dias. Poucas mulheres tem tempo, apoio e informação para continuar amamentando. Eu pude ficar com meu filho exclusivamente até ele completar 1 ano, e com certeza isso contribuiu muito para seguir amamentando. 

A maternidade também são vários cuspes jogados pra cima. Idealizei muito uma alimentação super saudável, sem açúcar até os dois anos, usar fraldas de pano, e várias outras coisas que infelizmente não deram certo. A realidade é diferente. Na creche dão biscoito de maizena, ele toma sorvete com a gente às vezes, já comeu pizza,fritura. A fralda de pano vazou tanto nos primeiros dias, e me faltou tanto apoio, que desisti. 

As vezes me sinto frustrada pelas coisas não serem do jeito que idealizei. Mas sei que também não é minha culpa.

Acho que podemos nos espelhar e devemos saber o que é o melhor, buscar informações do que é ideal, mas não dá pra gente ficar se culpando por que não conseguiu ser. A realidade é muito mais dura. Nós damos o nosso melhor. Somos mães possíveis. Acho que o parto do Ernesto me mostrou que idealizar demais é furada. Pode nos levar pra caminhos terríveis. 

A chegada do Ernesto me ensinou e me ensina a dialogar mais, a pensar com calma, a ser menos impulsiva e menos radical. 

A maternidade me deu a certeza de que era capaz de amar de verdade. Sempre tive minhas dúvidas. Ela me fez amadurecer muito, olhar pros meus defeitos e trabalhar eles. 

A maternidade nos leva a um encontro com a nossa própria sombra. Eu abracei a minha e segui. Sou grata.

Autor: Cheyenne Vieira

Autor: Cheyenne Vieira

Cheyenne é estudante de jornalismo, mãe do Ernesto, trabalha com fotografia e na comunicação da Dona Chica Slingueria. Está no Instagram @cheyenne.vieira

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