Amor Próprio – Quando é hora de você se dar colo?

amor próprio

Saiba se cuidar no momento certo

Começa com uma pequena ideia que você resolve ignorar com medo de pensar novamente e ela virar realidade. Depois mistura com péssimas emoções que você precisa suprimir e disfarçar, para não virarem realidade. Junte com as noites sem dormir, a alimentação nem um pouco regulada e a ausência de movimento. A não ser juntar os brinquedos da sala, lavar as roupas, limpar os quartos, lavar os banheiros, fazer todas as refeições e ainda estar disposta para a “noite”. A maternidade é um trabalho em tempo integral sem direito a férias, que ilusão, tirar férias de ser mãe. Se tem algo de permanente no mundo, a maternidade e as mudanças são duas delas.

Ciclo e Momentos da Vida

E tudo muda. Veja bem, isso foi um desabafo, ainda acredito que a vida é feita mais de momentos alegres que tristes, vai sempre depender do ponto de vista. Tenho aprendido que quem cria e recria os melhores momentos da minha vida sou eu, e os piores também. A verdade é que todo momento ruim veio seguido de algo bom e vice-versa o que me fez concluir que vivemos um paradoxo existencial aparentemente caótico e até bonito, se você tiver recursos e sensibilidade para enxergar que a beleza mora nos detalhes.

Filosofei demais? Não quero pedir desculpas por isso, apenas pedir alguns momentos da sua atenção e do seu tempo para me acompanhar nessa reflexão. Quando você era criança casar e ter filhos pode ter sido o sonho da sua vida, o meu não, queria ser atriz.

Quando você acha a dor e a solidão normais

Sonhava com as luzes, o palco, os aplausos da plateia, o elogio dos colegas. Assistia peças, inventava histórias, imitava as atrizes da TV. Cheguei a fundar um grupo na minha cidade, não deu muito certo, “arte é hobbie” ou “teatro não é coisa de mulher decente”. Sim, eu ouvi essa. Mas, era meu sonho, esses dias me perguntei quando foi que desisti dele. Cheguei a conclusão de que nunca desisti, apenas mudei do palco para a sala de aula e me formei em licenciatura, história, para crianças e adolescentes. Plateia difícil, mas conseguia cativar 4 ou 5 interessados e me agarrava neles para ensinar algo relevante e útil a suas vidas. As vezes me envolvia com suas histórias, e tentava ajudar ao máximo, existia um instinto aqui dentro que eu deveria protegê-los como uma loba protege seus filhotes.

A maternidade e seus sentimentos

Mas ter filhos? Falava que nao era pra mim até que a vida passa, o ventre grita e não precisamos entrar em detalhes. Só sei que mergulhei de finquete na maternidade, mas foi daqueles olímpicos. De disparar a ler, seguir todas as #mompwr que eu pudesse e deixar todo mundo louco, médica, doula, amigas, minha mãe, meu parceiro. Então minha pequena nasceu. Me dediquei totalmente, e não queria passar por nada sozinha, mas a maternidade é algo que te transforma tão profundamente. Quando me dei conta já estava a sete palmos e não via saída do puerpério, as outras mães diziam que passava rápido, outras que piorava com o tempo, mas que eu ia aprender a lidar com o turbilhão de sentimentos.

Quando você sente que precisa se dar colo e ter amor próprio

Acontece que comigo foi diferente, a dor não passava, a paranoia aumentava, cheguei a ficar meses trancada em casa cuidando da minha cria, não saía pra nada, tinha medo de deixá-la sozinha, tinha medo de deixá-la inclusive com o pai. Ele não acertava o jeito de pegar ela e ela era tão pequenininha. Ela já estava com 1 ano de idade e nao tinha voltado a trabalhar ainda. Nao ligava para minhas amigas, parei de frequentar a rede de mães que me ajudaram com tantos conselhos. Me isolei do mundo. Deixei todos preocupados, mas para mim, aquilo tudo era normal, ela precisava de mim, de cuidado, carinho, de amor e de colo, mesmo que dentro de mim só tivesse dor, solidão, angústia, medo e desconfiança de mim mesma. 

Os sentimentos eram muito misturados, sentia minhas forças sumirem pouco a pouco, a cada choro, a cada troca de fralda, a cada mamada. Fui me anulando, me esgotando. Como tirei forças para sair dessa? Ainda estou em processo. Primeiro tive que aceitar que não estava normal. Foi meio do nada, senti saudade de dar aula. Estava assistindo um episódio de “Merlí” na Netflix. E senti falta de preparar uma aula, e abrir a cabeça de pelo menos umas dez crianças com ideias novas, histórias de lutas, guerras e conquistas. Com a nossa própria história e me dei conta que havia perdido um tempo precioso. Resolvi buscar ajuda. Estou na terapia, passo bem, obrigada. 

Exercitar o amor próprio

Me deram um exercício: escrever todos os dias 3 coisas pelas quais fiquei grata no dia e que aconteceram a mim, depois a minha filha e depois ao meu parceiro. Precisava anotar exatamente nessa ordem. É uma forma de priorizar e dosar o amor próprio, o amor maternal e o amor passional. Precisava equilibrar os três para seguir em frente. Voltei a trabalhar, deixo minha pequena com outras pessoas, crescendo e socializando. É bonito de ver, consigo ficar mais leve em vê-la longe, mas sabendo que sempre estarei perto. Voltei a sair e a ligar para minhas amigas, frequento minha rede de mulheres-mãe e ajudo outras mães novas e solos a se encontrarem consigo mesmas.

Precisei de muitos diálogos internos, análises e terapias semanais e um anti depressivo. Precisei chegar no fundo do poço, aceitar meus maiores medos, enfrentá-los e vi que não era apenas a minha cria que precisava de colo. Tive que aprender a me dar colo, precisava prestar atenção em mim, cuidar de mim e mostrar afeto comigo mesma. Não é fácil. Tenho recaídas, como quando decretaram quarentena na minha cidade. Minha jornada de trabalho é quádrupla, casa, trabalho remoto, filha e marido. A gente viu que precisava fazer as coisas juntos e que cada um precisava de um tempo sozinho. Então dormimos em quartos separados para começar. 

Na primeira semana fui sentindo tudo voltar feito avalanche, aí decidi fazer uma coisa diferente. Arrastei todos os móveis da sala, e coloquei ASA (Asha) e, DANCEI. Quando vi estava os três rindo, dançando e se divertindo, em plena quarentena. Viu que é possível se dar colo até em tempos de crise? O que você acabou de ler é um relato baseado em realidades de diversas mulheres, e vamos preservar seus nomes, acredito que nossa identificação em uma parte ou outra já nos faz refletir. 

Espero que esteja preservando sua saúde, cuidando de si e dos seus. Espero que aprenda a se dar colo.

Cuide também do seu medo, o aceite e acolha, é normal. Está na hora de nos darmos colo também. Dance, escreva, assista filmes e escute música. Se envolva com arte, porque a arte salva em tantos momentos difíceis.

Se cuide, se dê colo, se ame! Continue nos acompanhando em nossas redes sociais e aqui no blog. Conte-nos o seu relato de quarentena. Acredito que sairemos mais fortes dessa tormenta.

Autor: Bruna Carvalho

Autor: Bruna Carvalho

Mãe do Valentim e da Dona Chica 🙂

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