Ilutração: Arami Argüello
Parece que quando a gente tá precisando olhar/trabalhar algo, esse assunto aparece por todos os lados. Quando eu comecei a prestar atenção nos exemplos de relacionamento amoroso que nos vendem, principalmente na indústria cinematográfica, fiquei impressionada e inconformada com a maneira como tudo é posto: a mocinha que, independentemente da autonomia que tenha sobre sua própria vida, acaba sempre sendo “salva” ou agraciada por uma figura masculina (isso no formato de relação hétero-normativa), salvo algumas exceções, que é o caso de Frozen 2. (Parece que sacaram que pegaria bem a Elsa numa perspectiva desconstruída!) Logicamente foi uma sacada comercial, mas não posso negar que gostei quando assisti.
As tramas de muitos filmes, em geral, giram em torno do amor não correspondido e do triângulo amoroso (no qual são duas mulheres disputando um lindão que nada sabe, nada faz). A questão não é que a mulher não possa ter um par romântico, mas é como a coisa é posta, tendenciosamente sugerida; é como se faltasse algo à mulher, e então, quando chega esse homem, tudo fica perfeito e completo, ela fica segura.
A vida tem seus desafios e, estando ou não em um relacionamento, iremos atravessá-los.Portanto, essa crença de que alguém irá nos salvar é muito nociva e é mais uma ferramenta que serve ao patriarcado, uma vez que mulheres que creem depender e necessitar de um homem são mais facilmente castradas. Claro que a problemática de dependência emocional se encontra também no formato de relação homoafetiva, na relação de amizade e de família. Mas, falo desse modelo de relacionamento padrão heteronormativo monogâmico (que é o que é aceito e visto como correto na nossa cultura e sociedade).
Perceber que o amor romântico é uma fantasia, abre espaço para que as relações possam acontecer sob outra perspectiva e também nos deixa mais livres pra viver relações de acordo com o que faz sentido pra nós no momento. Afinal, cada ser tem sua singularidade, então como pode haver um formato a ser seguido? E ainda, um formato que nos tira do protagonismo?! Não faz sentido.
Independentemente de estar me relacionando ou não, hoje acredito que eu sou a protagonista. E quem vem comigo, vem pra somar. É todo um percurso, desde tomar consciência desse invólucro, entrar em um processo de desconstrução interna e mudar os paradigmas. Não é algo que acontece da noite para o dia; esse ideal do amor romântico está no nosso inconsciente e no inconsciente coletivo.
Em suma, não se trata de uma negação ao amor. Acredito no poder curativo das relações amorosas. Mas acredito que as relações são construídas a partir de universos distintos. Cada pessoa tem suas singularidades, portanto, na minha concepção, não há como aceitar esse modelo de romance idealizado como o único a ser vivido.
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