Querida amiga grávida II

Inauguramos o blog! Viva!

Nesses 4 anos de maternidade e quase 4 anos de Dona Chica foram tantos aprendizados e tanta gente incrível que cruzou nosso caminho. Algumas delas passarão também aqui pelo blog. A Ju Hampshire é uma dessas pessoas. A Ju é psicóloga, mãe da Lia e da Celina, amiga, modelo (com certeza você já viu foto dela por aqui!) e uma das primeiras clientes Dona Chica. É dela o texto que trazemos aqui no blog hoje, na semana do Dia das Mães, sobre a experiência única de ser mãe, de ser uma mãe possível. Ju escreve no blog Faca na Chupeta, passa lá também.

“Eu tenho duas filhas, mas eu não sei mais do que você. Não tem nada que eu possa te ensinar de realmente útil. Claro, amarração de sling, talvez. Mas pode ser que você nem curta muito. Queria te dizer, minha querida amiga grávida, que a minha experiência é só minha. Eu não sei o que é melhor pra sua filha, eu só sei das escolhas que eu fiz, que nem sei se foram as melhores pras minhas meninas, mas foram as escolhas possíveis.

Queria te dizer que não tem um texto na imensidão de coisas escritas sobre a maternidade que possam te preparar para ser mãe. Ou para ser mãe de novo. Pode ser que você não tenha insegurança nenhuma também. Nossos medos jamais serão os mesmos.

Eu vejo um monte de mulheres que não tiveram, nem de perto, as mesmas dúvidas que eu. Que refizeram suas vidas com muita facilidade. Ou que não tiveram opção que não fosse retomar as mesmas atividades, somadas aos cuidados com o bebê.

Eu mesma já escrevi que a maternidade me virou pelo avesso, e pareceu até poético. Um monte de gente escreve isso e parece um clichê. Acho que é. É romântico também. Mas a minha realidade é que esse avesso aí não tem aquela pele protetora, sabe? Tá tipo carne viva, órgão exposto. Como olhar no espelho e não ver aquela velha conhecida. Mas me deparar com aquelas olheiras e me identificar com o buraco fundo sulcado na carne. Estou entre ser o buraco e estar dentro dele. Ainda não entendi direito. Só sei que é chato porque tudo machuca mais. Ás vezes sou péssima companhia, porque tudo me corta. Ás vezes estou leve e tudo é riso frouxo.

O problema não são as horas sem dormir, porque elas já se tornaram anos por aqui. No primeiro deles, se me dissessem que a Lia ia dormir um dia eu dava gargalhada. Já tinha perdido as esperanças. Hoje eu preciso acordá-la das sonecas ou mesmo de manhã. Eu tinha certeza que o desmame ia ser complicadíssimo e não foi.

O que dói mesmo é a solidão. É precisar fazer um monte de escolhas sem nem perceber que estou fazendo. É estar completamente sozinha nesse papel de mãe porque a gente sempre relativiza tanto. A gente também aumenta, fato.

Eu já fui defensora ferrenha da amamentação. Da amamentação prolongada. Aqui foi a escolha possível. Juro que não sei se a melhor. Pra saúde delas, pode ser. Pra minha, não sei. Se eu faria diferente? Não. Porque nem saberia fazer diferente. Não dei chupeta nem pra uma nem pra outra e às vezes me arrependo.

Esse troço de ser colo, alimento, cama, porto é pauleira. Lindo, sim. Mas uma entrega que nem sempre eu tô muito afim. Aí me dizem assim: desmama. Ou me dizem assim: vai passar. Ou: mas elas são tão doces/lindas/saudáveis. São mesmo. Isso tudo. Mas enchem a paciência também. Porque eu também encho, gente. Elas são isso tudo e querem o mundo inteiro. Ainda bem. Mas a ponte pro mundo inteiro ainda sou eu. E eu nem tenho acesso ao mundo inteiro.

Eu achava que a Lia não comia. (Insira aqui sua gargalhada mais alta).

Eu não sabia o que era não comer.

Celina não comia.

“Ah, normal!”/ “Cada um no seu tempo”/ “Sua relação com a comida é boa?”/ “Basta seguir uma rotina”/”Insiste que vai”/ “Quando tiver fome vai comer”/ “Longe do peito vai comer”/ “É porque mama” … poderia ficar hoooooras escrevendo tudo.

Me culpei, achei que eu tinha bagunçado a vida dela. Que eu que estava dando péssimos exemplos. Se tem uma coisa que funciona é culpa materna. Se tiver brecha, ela tá apitando.

Caso é, 6 meses, não comia. Normal. 7 também não. 8, nada. 9, ainda não. 10 e nem água. 11 e cara! Ela anda, escala e só mama. Só MAMA. Lembrando que sou eu que produzo o leite e preciso ainda seguir vivendo nas outras funções que não são só ser alimento. Nutricionista iluminada: Ju, FONO. Isso não é só uma dificuldade normal. É toma exercício. Consultas por Skype. Ela bebeu água. Uau!

Osteopatia. Manobras.

Com 1 ano e quase 2 meses ela come. Pouquíssimo. Mas ela come. Hoje eu sei que ela não vai viver do meu leite até os 15 anos de idade. Você tá rindo, eu sei. Sei que parece exagero. Mas sabe quando você doa sangue? Você fica meio cansado, desgastado? Imagina ser mais ou menos essa função todos os dias por mais de 1 ano dia e noite? Com uma outra filha que também requer cuidados.

O que tem isso a ver com a minha amiga grávida? Que essa experiência não te serve. Porque sua filha vai ter outras dificuldades que as minhas saídas não vão te servir.

Mas eu posso estar do seu lado. Posso segurar sua mão e fazer você se sentir menos louca. Menos sozinha remando contra a maré. Posso não julgar nenhuma das suas escolhas e posso aplaudir sua decisão de dormir mais um pouco. De deixar a bebê um pouco com quem você quiser. Ou de não deixar com mais ninguém.

Posso te dizer que esse lance de ser mãe é cilada, mas é bom pra caramba também. E que nossas filhas vão poder dar as mãos também.”

Querida amiga grávida II

www.donachicasling.com.br

Autor: Dona Chica

Autor: Dona Chica

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